
Abra sua Bíblia no capítulo nove de João. Quanto àqueles que não estiveram conosco em nossos estudos anteriores do capítulo nove, desculpem, porque vão perder as duas primeiras sessões deste grande capítulo. Então, deixem-me ver se consigo condensar brevemente aquilo para vocês.
Jesus está em Jerusalém, passando por uma das entradas do templo. Ali ele se depara com um cego de nascença. Ele nunca viu nada - tem algum tipo de cegueira congênita e ficou reduzido a mendigo. Então, ele se assenta com outros mendigos na entrada do templo porque é onde a maioria das pessoas passa, preocupada em honrar a Deus, de modo que podem ser mais sensíveis para fazer o que deveriam, o que é certo, e dar esmolas aos mendigos. Assim, essas entradas e saídas eram ocupadas por mendigos. Jesus se depara com esse cego, que obviamente não pode vê-lo. Jesus caminha até ele e dá-lhe novos olhos, cria novos olhos. Porque, como João nos diz, nada foi feito, exceto o que ele fez. Tudo o que foi feito foi ele que criou. Ele ainda é o Criador e cria olhos para aquele cego.
Ele imediatamente se torna capaz de ver, e então ocorrem alguns encontros. Em primeiro lugar, seus vizinhos tentam descobrir como isso aconteceu, como esse cego que eles conhecem agora consegue ver. Então ele passa por um interrogatório com seus vizinhos, mas não consegue explicar quem fez isso porque nunca o viu, não sabe exatamente como isso aconteceu. Mas ele está convencido de que quem fez isso é de Deus. Então ele é levado aos fariseus, que devem dar algum tipo de explicação espiritual ou religiosa ou divina sobre como isso poderia acontecer. Porque, como diz o cego, nunca se ouviu na história do mundo que alguém cego se tornasse capaz de ver. Ocorre então um interrogatório dos fariseus.
Eles já têm seu veredito antes de iniciar o questionamento. Acreditam que Jesus é um impostor louco, possesso de demônios e satânico. E com essa conclusão, sua investigação não levará a lugar nenhum. Portanto rejeitam o testemunho do homem e dos vizinhos, e acabam expulsando do edifício o homem agora curado. Com isso realmente o expulsam da vida da nação de Israel. Ele já era um proscrito porque se acreditava que qualquer um que nascesse cego tivesse sido amaldiçoado por Deus por causa de pecado. Talvez pecado de seus pais, talvez seu próprio pecado. Portanto, ele já estava fora da sinagoga, era incapaz de interagir na sinagoga. Ele era um pária, um estrangeiro e, consequentemente, um mendigo. Sua própria família tinha vergonha dele. Sabemos que ele tinha mãe e pai. Eles aparecem na história e o abandonam para se protegerem. Pense nisso: se eles tivessem algum amor pelo filho cego, ele não se teria tornado mendigo. Eles teriam se importado com ele como qualquer pai sensato e normal faria.
Portanto, este é um homem que foi completamente rejeitado por todos. E agora, quando ele consegue ver, ele precisa lutar para fazer as pessoas aceitarem o que aconteceu. Os vizinhos veem, mas não sabem explicar. Os fariseus veem, mas se recusam a reconhecer o fato. Seus próprios pais o tratam com desdém. Finalmente, o interrogatório termina no versículo 34 com as últimas palavras dos fariseus: “Você nasceu inteiramente em pecado e está nos ensinando?” Então eles o expulsam. Rejeitam Jesus e rejeitam o Homem. Rejeitam o milagre.
Jesus não está lá naquele momento. Ele havia curado o homem e então desaparece da história. O homem é levado aos fariseus pelos vizinhos para aquele interrogatório, que termina com ele sendo expulso, continuando como um pária, embora agora ele consiga ver.
No versículo 35, então, Jesus volta a entrar em cena. Jesus ouve que o tinham expulsado e, encontrando-o, diz: “Você crê no Filho do Homem?” Ele responde: "Quem é ele, Senhor, para que nele creia?" Jesus lhe diz: "Tu já o viste, e é aquele que fala contigo." E ele: "Senhor, eu creio", e o adora. Jesus então explica: “Eu vim a este mundo para julgamento, a fim de que os que não veem vejam, e os que veem fiquem cegos”. Os fariseus que estavam com ele ouviram essas coisas e disseram-lhe: “Nós também não somos cegos, somos?” Jesus lhes diz: “Se fossem cegos, não teriam pecado; mas já que vocês dizem: 'Vemos', seu pecado permanece.”
Agora estamos passando da cegueira física para a cegueira espiritual. A cura? Aquela fora física. Esta seção, que culmina com essa história incrível, trata da cegueira e da visão espiritual. E em toda a Bíblia a cegueira é usada metaforicamente para representar a condição humana de corrupção e queda, além da incapacidade de compreender Deus e a verdade divina. Em Isaías 43:8 lemos sobre pessoas que são cegas embora tenham olhos. Em Jeremias 5:21, sobre pessoas que são tolas e insensatas, que têm olhos, mas não veem. Em Isaías 56:10, os líderes corruptos de Israel são descritos como vigias cegos, que nada veem. Jesus chamou os fariseus de cegos e depois de guias cegos.
De acordo com Atos 26, o apóstolo Paulo foi enviado com o evangelho às nações “para lhes abrir os olhos a fim de que se convertam das trevas à luz”. Isso aconteceu com ele na estrada de Damasco, não foi? Ele era espiritualmente cego e ficou também fisicamente cego. Todos os pecadores, diz o apóstolo Paulo em Efésios 4, têm o entendimento obscurecido. Em João 3, nosso Senhor diz que os pecadores amam as trevas ao invés da luz porque eles prezam suas más ações. Apocalipse 3:17 caracteriza o mundo dos pecadores como desgraçados, nus, miseráveis, pobres e cegos.
Portanto, a Bíblia fala da cegueira como metáfora para a ignorância espiritual, a escuridão espiritual, a corrupção espiritual, a incapacidade de conhecer a Deus ou de saber a verdade. Essa cegueira natural causada pelo pecado é agravada pelo poder e o engano de Satanás, que cria uma espécie de dupla cegueira, mencionada em 2 Coríntios 4: o deus deste mundo, Satanás, cegou as mentes dos incrédulos para que não possam ver a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus. Naturalmente cego, satanicamente cego.
Quando essa cegueira é persistente e impenitente, quando essa cegueira continua implacável, há um terceiro tipo de cegueira, uma cegueira do julgamento divino que produz uma cegueira terminal. Isaías 44:18 diz: “Eles não sabem, nem entendem.” Por quê? Porque Deus “grudou seus olhos para que não vejam e seus corações para que não possam compreender”. Isso é exatamente o que Deus disse a Isaías na visão do capítulo 6. Eles ouvirão, mas não entenderão. Eles verão, mas não perceberão. Eles não vão acreditar, porque foram endurecidos por um julgamento de Deus.
Em João 12:39 e 40 aqueles que persistem na incredulidade não podem crer porque, como disse Isaías, “Ele cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vissem, percebessem e se convertessem”. Nesse ponto, judicialmente cegados por Deus, eles não podem ver, não podem perceber, não podem ser convertidos. Paulo escreveu sobre tal julgamento em Romanos 11:8. “Deus lhes deu espírito de profundo sono: olhos para não verem e ouvidos para não ouvirem, até ao dia de hoje.” Esta é uma realidade perigosa. A cegueira natural é danosa. A cegueira satânica agravada é ainda mais contundente. A cegueira terminal é um julgamento de Deus, é a remoção de toda esperança.
De acordo com Provérbios e Eclesiastes, os pecadores andam nos caminhos das trevas. De acordo com Isaías 5:20, eles substituem a luz pelas trevas e as trevas pela luz. De acordo com Efésios 5:11, o mundo inteiro está cheio de pessoas que participam das obras infrutíferas das trevas, porque, como diz Colossenses 1:13, elas fazem parte do domínio das trevas. Cegueira, escuridão, metáfora para a condição dos pecadores.
E quando no Antigo Testamento Deus começa a falar sobre o Messias, ele diz que o Messias virá para trazer luz. Confira Isaías 9, Isaías 29, Isaías 42, Isaías 60. Em todas essas passagens, o Messias é visto como aquele que traz luz espiritual ao mundo em meio às trevas. Uma luz brilhará quando o Messias vier. E à medida que o Novo Testamento se abre, o que ouvimos? “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens”. Com isso a apresentação inicial do Senhor Jesus Cristo em sua realidade sobrenatural se torna mais leve. Mais tarde, em João capítulo 8, ele diz: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”. E em João 12:46: “Eu vim como luz ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas”.
Mateus diz no capítulo 4: “O povo que vivia em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra resplandeceu-lhes a luz.” Esse é o Messias chegando para trazer luz às trevas.
Quando Paulo escreve para a igreja de Tessalônica e, na verdade, para todos os crentes, ele diz: Vocês todos são filhos da luz, não da noite nem das trevas. 1 Pedro 2:9 fala do Senhor como “aquele que vos chamou das trevas para a sua luz maravilhosa”.
Tudo bem, tudo isso é para dar a você a percepção de que Deus planejou em seus propósitos divinos usar a cegueira e as trevas como metáfora para a condição espiritual. Consequentemente, quando chegamos a este texto em João 9, tudo isso está configurado para os versículos finais que acabei de ler. Os versículos 1 a 34 são sobre luz física, visão física. Mas também há nuances de cegueira espiritual e escuridão espiritual manifestadas pelos fariseus. Quando chegamos aos versículos 35 a 41, o assunto muda completamente da visão e da luz física para a visão e a luz espiritual, e cegueira e escuridão espiritual.
Agora, olhando para esses versículos curtos, diretos e simples, quero dividi-los em duas seções: visão espiritual, versículos 35 a 38, o mendigo; cegueira espiritual, versículos 39 a 41, os fariseus. Com base nesse milagre, temos aqui uma comparação baseada entre a visão espiritual, que o mendigo recebe, e a escuridão espiritual, na qual os fariseus permanecem.
Vamos então olhar para a visão espiritual e o mendigo, os versículos de 35 a 38. Só para lhe dar um pouco de um padrão a seguir, quatro coisas definem essa visão espiritual, ok? Quatro coisas. Será uma ilustração de alguém que não só vê fisicamente pela primeira vez, mas que verá espiritualmente pela primeira vez. Existem quatro elementos. O primeiro elemento – muito importante - é: a visão espiritual requer iniciativa divina. Aquele homem não tem nenhuma capacidade de conseguir ver fisicamente, também não capacidade de ver espiritualmente. É por isso que oferecemos essa transição, porque é muito ilustrativa. Ele não pode fazer nada para ajudar a si mesmo. Naqueles tempos antigos não existia cirurgião que pudesse consertar algo em seu olho e fazer com que ele enxergasse. Também não há como ele ter visão espiritual por conta própria. Não é possível. Humanamente falando, isso não pode acontecer em nível temporal, físico e natural. Para que ele possa ver, o céu terá de descer e encontrá-lo, localizá-lo, e é exatamente isso o que acontece.
Versículo 35: O burburinho ao redor da área do templo e onde quer que esse interrogatório tenha ocorrido ainda continua, e então Jesus ouve que eles o expulsaram, o que é muito gratificante. "E o encontra." Isso é paralelo. Lembrando: no capítulo 5, o homem no tanque de Betesda pegou sua cama e caminhou, deu de cara com os fariseus, o mesmo tipo de interrogatório, o mesmo tipo de encontro. E diz ali naquele mesmo capítulo 5, acho que é no versículo 14: “Jesus o encontrou”. Jesus o encontrou: é assim que se recebe visão espiritual. Tudo começou por uma iniciativa divina. Tudo começou por um propósito soberano na mente de Deus. Em Lucas 19:10, Jesus diz que o Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido. Não apenas a salvação, mas a busca. Romanos 3 diz que ninguém busca a Deus. Não saberíamos para onde ir, não saberíamos quem procurar. Por isso é ele que busca. Ele diz aos apóstolos em João 15:16: “Vocês não me escolheram. Eu escolhi vocês.” Em Mateus 18, “o Filho do Homem veio salvar o que se havia perdido”. Foi para isso que ele veio. Ele é o localizador. Ele é quem nos procura.
O Senhor abre a visão espiritual assim como abriu a visão física daquele homem. Havia muitos mendigos. Havia muitos doentes. Eu já disse que havia muitos cegos no mundo antigo. Ele buscou este homem para seus próprios propósitos, suas próprias intenções de reino soberano. Ele o procurou quando aquele homem nunca poderia tê-lo encontrado, totalmente cego como era. Cristo é sempre o iniciador da salvação, sempre o Salvador que busca. Novamente: o cego não tem poder para dar a si mesmo a visão física, nem o pecador tem qualquer poder para dar a si mesmo visão espiritual. Precisa ser iniciado, inaugurado no céu.
E assim Jesus encontra o homem. É aqui que começa a visão espiritual. Esta é uma ilustração muito poderosa, porque se trata de um homem desamparado e sem esperança, assim como todo pecador.
Então Jesus o encontra e inicia uma conversa. Muito curta. Isso, novamente, é enigmático. Esses relatos no Novo Testamento são condensados. Não achamos que a conversa tenha se limitado a isso, mas essa é a essência que Deus nos revelou. Ele diz: "Você acredita no Filho do Homem?" É uma questão muito importante. Aquele homem estava bem instruído no Antigo Testamento, embora não tenha frequentado uma sinagoga. Ele absorveu a verdade do Antigo Testamento embora não soubesse ler. Não sabemos como, mas ele é muito sábio. Ele sabe, por exemplo, que nunca houve registro na história de alguém ter sido curado da cegueira. Ele também sabe o que caracteriza um profeta. Assim ele diz de Jesus: “Ele é de Deus; ele faz a vontade de Deus. Ele é aquele que Deus ouve. É um profeta.” Portanto, ele é um homem muito perspicaz. Ele também conhece o título “Filho do Homem”. Está familiarizado com Daniel 7, onde esse título messiânico se destaca.
Ouça o que Daniel capítulo 7 diz. Daniel tem uma visão durante a noite. Capítulo 7:13: “Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu alguém como um Filho do Homem”. Esse é um título messiânico. Isso introduz a vinda do Messias para estabelecer seu reino. Ele veio até o ancião de dias, que é Deus Pai, foi apresentado diante dele e a ele foi dado domínio, glória e um reino para que todos os povos, nações e homens de todas as línguas pudessem servi-lo. Seu domínio é um domínio eterno que não passará, e seu reino não será destruído. Este não é Deus, porque este é aquele que vem a Deus. Este é aquele a quem Deus dá este reino universal eterno e perpétuo. É o Messias, e ele é o Filho do Homem, o que é uma profecia de que ele encarnará.
Todos os judeus entendiam o título messiânico, o Filho do Homem. A propósito, ele aparece 13 vezes no evangelho de João porque é familiar na conversa dos judeus e porque sabem que Daniel 7 se refere ao Messias. Então, nosso Senhor diz a ele: "Você crê no Filho do Homem?" Você acredita no Messias? Você acredita na teologia messiânica? Você acredita que o Messias vem para estabelecer seu reino? Você acredita nisso?
Portanto, aqui está o primeiro passo para a visão espiritual. Um homem na escuridão e espiritualmente cego é encontrado por Cristo para os próprios propósitos de salvação de Cristo. Toda visão espiritual é iniciada do céu porque Deus é quem busca.
A segunda coisa que quero mostrar aqui neste caso de visão espiritual é que a visão espiritual não só começa por iniciativa divina, mas conforme o versículo 36 requer fé. É uma declaração incrível. Ele respondeu: "Quem é ele, Senhor, para que eu possa crer nele?" Que declaração incrível! Aqui está um homem pronto para crer. Ele só quer saber em quem crer. Eu gostaria de ter tempo para desenvolver isso como uma teologia, porque o que vemos aqui é a essência da doutrina da regeneração em ação. Este homem está pronto para crer. Ele só quer saber em que crer. Não é fácil compreender isso. Não é por causa do que dizemos que as pessoas creem. É por causa do que Deus fez para habilitá-los a crer que eles respondem ao que dizemos. É incrível. Aqui está um homem dizendo: “Estou pronto para crer. Em quem devo crer? Mostre-me em quem crer.” Esse é um coração preparado, um bom solo.
Então, quem é ele, senhor? Veja a palavra ”senhor” ali, e em minúsculas, senhor. Ele não sabe quem ele é, então não chama Jesus de Senhor em maiúsculas. A palavra kyrie pode ser usada como “senhor”, como você a veria em um português antigo, no sentido de gente respeitável. Então acho que aqui ele ainda está aplicando o sentido comum. Quem é ele, senhor, para que possa crer nele? Algo está acontecendo em seu coração. Essa iniciativa divina não é apenas física, não só Jesus o encontra, mas pelo poder do Espírito Santo Deus está abrindo seu coração para crer, e é tudo o que ele precisa. É como Lídia, cujo coração o Senhor abriu. Lembra do livro de Atos? O coração do homem está aberto. Tudo o que ele quer saber é: quem? É incrível, um milagre divino. Não é um tipo de ato racional em que alguém convenceu aquele indivíduo de que ele precisa crer com base em fatos. O Espírito Santo o capacitou a crer mesmo antes de os fatos ficarem claros. Portanto, é iniciativa divina e uma resposta de fé. Quem é ele, para que nele eu creia?
Há uma terceira característica na visão espiritual. Tudo começa por iniciativa divina, requer fé e, em terceiro lugar, a visão espiritual confessa Jesus como Senhor. Onde houver o milagre da visão espiritual, haverá uma confissão de Jesus como Senhor.
Observe o versículo 37. Jesus responde a ele "Tu já o viste." Você o viu. Você está olhando para ele, “ele é o que está falando com você”. É interessante para mim que não sei o quanto esse homem tinha ouvido Jesus ensinar. Certamente ele não tinha visto nenhum milagre. Havia muitas pessoas que viram milagres. Toda a população viu milagres. Até aí não fora possível superar a escuridão espiritual, mas Deus foi vencendo sua escuridão espiritual dando-lhe fé, e tudo o que ele quer saber é em quem ele deve depositar essa fé. Jesus diz: “Você o viu, e ele é quem está falando com você”. Sou eu. Lembre-se do capítulo 4, quando a mulher junto ao poço, a mulher samaritana, disse que, bem, sabemos que o Cristo virá, e Jesus responde dizendo: "Sou eu, que estou falando com você." Eu sou o escolhido. Ela creu e toda a aldeia de Sicar creu.
Este é um milagre divino. Ele disse: "Senhor, eu creio." Ele não disse: "Você poderia me dar alguma evidência pela qual eu creria nisso?" Não sei o que ele ouviu, o que ele soube. Bastava-lhe que Jesus o tivesse tornado capaz de ver, que ele já tivesse declarado sobre Jesus todas aquelas coisas que eu disse. Ele é de Deus. Deus o ouve. Ele é um profeta. Agora ele sabe que é um profeta de Deus. E se um profeta de Deus disser: “Eu sou o Filho do Homem, eu sou o tão esperado Messias”, isso é o suficiente para aquele homem. Seu coração está preparado. E ele diz: "Senhor, eu creio." E agora, SENHOR, fica com letras maiúsculas. É Kyrie em maiúsculas. Ele passou de senhor para SENHOR dos senhores.
Este é o Senhor em seu sentido mais pleno e elevado. Senhor, eu creio. E embora a palavra seja a mesma, há uma grande diferença. Quando ele diz “Senhor” no versículo 36, ele está fazendo uma pergunta. Em quem eu creio? Agora, ele crê e diz “SENHOR” em um sentido completamente diferente, porque ele imediatamente faz o quê? Adora.
Como você sabe quando a visão espiritual chega a alguém? Ela é iniciada por Deus, o coração está preparado, o coração se abre para aceitar a verdade e confessa Jesus como Senhor. É apenas um milagre surpreendente e maravilhoso, como o milagre da visão física.
Estamos começando a acumular uma pequena lista de crentes aqui, não é? Quando começamos o evangelho de João, eram Pedro e André, Filipe e Natanael. Então apareceu Nicodemos, que talvez não seja um crente ainda, mas está a caminho e finalmente se torna crente, pois aparece no sepultamento do nosso Senhor. Mas a partir de agora teríamos de limitar-nos a Pedro, André, Filipe, Natanael e aquela mulher samaritana no capítulo 4, seguida do pessoal da vila de Sicar. Em seguida, o paralítico no tanque de Betesda. Depois alguns discípulos verdadeiros no capítulo 6. E agora podemos adicionar o cego à nossa pequena lista de crentes verdadeiros. Cada um deles é um milagre divino e sobrenatural.
Quando nosso Senhor disse a Pedro que “carne e sangue não revelaram isso a você, mas meu Pai que está no céu”, isso não foi apenas verdade em relação a Pedro. Isso é verdade para qualquer pessoa que tenha sido levada à fé. Todas.
Um pobre mendigo que não tinha visto nada em toda a sua vida agora vê fisicamente e, mais importante, vê claramente o Filho do Homem. Ele ganhou visão. Ele olha para a glória de Deus na face de Jesus Cristo. Portanto, a visão espiritual basicamente requer iniciativa divina, responde com fé, reconhece Jesus como Senhor e, em quarto lugar, resulta em adoração. É assim que o versículo 38 termina. Ele o adorou.
Está tudo naquela declaração simples: ele o adorou. Tudo o que é ser um crente está ali. Cada partícula disso está lá. Lembra-se dos versículos 20 a 24 de João 4? “O Pai busca verdadeiros adoradores, que o adorem em espírito e verdade”. Como saber se alguém é crente? Ele se torna o quê? Adorador. Como você sabe que é cristão? Não porque você fez uma oração. Não porque pediu ao Senhor que fizesse algo por você. Não porque você se comoveu emocionalmente em uma reunião e se sentiu sentimental em relação a Jesus. Como você sabe que é um crente? Como sabe que foi transformado? É quando você se torna um adorador. É por isso que eu disse antes que a abordagem narcisista, sentimental e egocêntrica do evangelho cria uma dependência insaciável de que o sistema que originalmente ofereceu a resposta para o que todos desejam continue dando àquela pessoa o que ela deseja. É implacável. Como essa pessoa se transformará em um adorador totalmente altruísta?
Aquele homem cai de joelhos em adoração. O oposto ocorreu lá no versículo 59 do capítulo 8. Quando Jesus declarou aos fariseus quem ele era, eles pegaram pedras para apedrejá-lo. É isso que a cegueira espiritual produz. Aquilo é o que a visão espiritual produz. Então, se você se perguntar como saber se está salvo, pergunte a si mesmo se ama a Cristo, se ama a Deus, se ama o Espírito Santo, se deseja ser obediente, se deseja honrar e agradar o Senhor, se você é um adorador. Estávamos outra noite conversando na reunião dos presbíteros sobre algumas pessoas que não vêm à igreja. Quando as contatamos, elas dão todos os tipos de desculpas: bem, sabe, tenho outras coisas a fazer, e isso e aquilo me incomoda, e blá, blá, blá. O ponto principal é: essas pessoas muito provavelmente não são crentes, porque os crentes adoram. Essa é a prioridade de sua vida. E não estou dizendo que o único lugar onde se adora é na assembleia coletiva da igreja. Não é isso. Mas é isso que nos eleva, fortalece e encoraja pelo resto das horas em que adoramos como individualmente. Isso é crítico. Isso satisfaz o desejo de nosso coração em honrar o Senhor, ouvir o Senhor, exaltar o Senhor, louvar o Senhor. Crentes são adoradores.
Portanto, aqui está um homem com duas biografias. Cego fisicamente, cego espiritualmente, ele é procurado pelo Senhor fisicamente e também espiritualmente. O Senhor lhe deu visão física e também visão espiritual. O homem tem agora a oportunidade de testificar do Senhor. Ele é abandonado por sua família. É odiado pelos inimigos do evangelho. É expulso do sistema de seus dias por causa de sua associação com Cristo. Ele é uma espécie de retrato do que é ser cristão. Ele toma seu lugar aos pés do Salvador e torna-se um adorador como todos os crentes fazem.
Em contraste com isso, vejamos rapidamente a cegueira espiritual no caso dos fariseus, versículo 39. Jesus disse: “Eu vim a este mundo para juízo, para que os que não veem vejam”, como o cego, como pecadores que se arrependem e creem, “e os que veem”, como os fariseus, que achavam que viam. Como Jesus disse, eu não vim chamar os justos, as pessoas que pensam ser justas. Eu vim a este mundo “para que os que não veem vejam e os que veem fiquem cegos”. Obviamente um jogo de palavras com todo esse conceito de cegueira, que está, como eu disse, em toda a Escritura. Quando Jesus vê esse homem adorando-o, Ele compara esse coração humilde, confiante e crente do mendigo com o ódio hostil e obstinado dos fariseus. E ele admite: é assim que será na minha vinda. Mesmo que o Filho do Homem tenha vindo para buscar e salvar os perdidos, mesmo que ele não venha para julgamento, como diz João 3, ele não veio para julgar o mundo, mas para salvá-lo.
Ainda assim, embora ele tenha vindo em sua encarnação para salvar, sua salvação torna-se uma realidade que divide. Há um julgamento vinculado a isso. Como Simeão disse: “Esta criança é para a ascensão e a queda de muitos”. Ele é o divisor. Este não é um julgamento final. Este é um tipo de julgamento imediato que acontece no ponto em que o evangelho é apresentado, em que Cristo é apresentado. Existe uma divisão que ocorre entre o crente e o incrédulo. Sim, ele não veio para julgar no sentido do julgamento final. Ele veio para salvar. Ele veio para ser humilhado e ir à cruz e ressuscitar dentre os mortos para salvar. Mas mesmo isso é um juízo realizado. Na verdade, em João 3 ele diz: “Se você o rejeitar, você se julga”. Você já foi julgado. Se em Jesus que morreu na cruz para a salvação uma pessoa não vê nada desejável, nada do que essa pessoa deseja, isso é um julgamento sobre essa pessoa. É uma autocondenação.
Se um pecador não vê em Jesus nada a desejar, nada em que confiar, isso é uma autocondenação. Esses são os fariseus. Eles não precisavam de nada. Eles podiam ver claramente. Eles viam tudo. Eles conheciam a Deus. Sabiam a verdade. “Sabiam” que Jesus era um pecador vil, um homem satânico, demoníaco e insano. Porque pensavam ver, eles eram totalmente cegos. Esse é o ponto do versículo 39.
A primeira coisa sobre a cegueira espiritual é, portanto, que a cegueira espiritual traz julgamento. É trágico: julgamento agora e no futuro. Em segundo lugar, a cegueira espiritual é teimosa - versículo 40. “Os fariseus que estavam com Ele ouviram essas coisas e disseram-lhe: 'Também não somos cegos, somos?'” Dizem isso com desdém, arrogância e desprezo. Você não está dizendo que nós, os mais cultos, eruditos, justos, santos, virtuosos, representantes de Deus somos cegos, está? Bem, isso é exatamente o que ele estava dizendo. Aquele homem fora espiritualmente cego, mas agora ele enxerga espiritualmente. Quem achar que enxerga espiritualmente, simplesmente demonstra que é espiritualmente cego. Para eles, a ideia de cegueira espiritual é uma piada.
Há um terceiro ponto aqui, rapidamente. Pessoas espiritualmente cegas recebem julgamento, recusam-se a admitir sua cegueira e, em terceiro lugar, rejeitam a visão quando ela é oferecida. No início do versículo 41 Jesus diz a eles: “Se vocês fossem cegos, não teriam pecado”. Isso dá continuidade a esse pequeno jogo de palavras sobre a noção de cegueira. Mas Jesus usou o termo de uma maneira completamente diferente. No versículo 40, você é cego. É cego no sentido de que não vê o seu pecado. Você está cego. Mas no versículo 41 você não é cego. Como você faz isso? “Se você fosse cego, não teria pecado”. O que isso significa? Você não é cego quanto à verdade. Se fosse cego para a verdade, se você não tivesse conhecimento da verdade, nenhuma revelação da verdade, se não tivesse a Escritura, não tivesse o Antigo Testamento, a lei, todos os profetas e escritos sagrados, não tivesse a mim, não tivesse toda a demonstração de quem eu sou, seu pecado não seria tão grave. Isso seria como nos tempos do passado, quando Deus desconsiderava o pecado das pessoas porque a revelação era incompleta. Há menos punições, um julgamento menos severo recai sobre aqueles que não têm conhecimento. Mas você não é cego. Você é cego no sentido de que não vê seu próprio pecado. Você não é cego no sentido de que foi exposto à verdade. Vocês têm a lei, os profetas, as alianças, tudo. As promessas, o Antigo Testamento. Vocês me tiveram. Vocês ouviram minhas palavras. Vocês viram os milagres. Vocês não têm desculpa. Sim, cego para o seu próprio pecado; não, não cego para a verdade.
A cegueira espiritual então recebe o julgamento, recusa-se a admitir sua condição, rejeita a oferta de luz e visão quando é dada, como eles receberam. Finalmente resulta em condenação - final do versículo 41. “Mas visto que dizeis 'Nós vemos', o vosso pecado permanece.”
Vocês estão condenados. Aceitam como visão espiritual a condição de cegueira espiritual em que estão. Vocês não têm esperança. Se você acha que consegue ver, está condenado - um incrível jogo de palavras. Seu pecado permanece, e ponto final. A luz brilha na escuridão e a escuridão não pode extingui-la. A escuridão não pode apagá-la, mas a escuridão a rejeita. Veio para os seus, e os seus não o receberam. Ele está no mundo. O mundo foi feito por ele. O mundo não o conheceu.
Eles eram a elite religiosa, mas estavam na escuridão. E um mendigo cego, um proscrito total, vê fisicamente e, mais importante, vê espiritualmente.
FIM

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